O corpo que conduz a motocicleta

Estou fazendo uma viagem solo de moto que já passa de 4.500 km rodados. De São Paulo até Colonia del Sacramento, Uruguai, passando pelas serras catarinense e gaúcha, mas depois eu conto mais detalhes dessa repentina aventura.
Ontem cruzei a fronteira do Chuí de volta ao Brasil e várias reflexões se fizeram presentes nestes 540 km da costa uruguaia até o Brasil.
Na ida, acabei passando direto pelo Museu Casa Pueblo e decidi que não deixaria de conhecê-lo em meu último dia, em Punta Ballena.
O lugar é estonteante, mas não é dele que quero falar. Quero falar do corpo, deste corpo que nos move e que muitas vezes negligenciamos ou insistimos em tentar encaixar num padrão estabelecido e, desta forma, o enchemos de defeitos.
Meu corpo pedia café. Café brasileiro, forte, quentinho, aquele ritual de carinho. Meu corpo ontem, chacoalhado pelos fortes ventos uruguaios, que pareciam tentar tirar a moto de minhas mãos. Sol, vento, frio, cansaço, muitas sensações misturadas com a felicidade de explorar novos lugares, novas culturas. Então hoje, em terras brasileiras, decidi tomar meu café e descansar. Reviver todas aquelas sensações da estrada, pensando em como amo este corpo que me permite viver tudo isso, que enxerga gaviões na beira da estrada, que permite conduzir uma motocicleta por um dia inteiro, cruzar fronteiras físicas e vencer barreiras psicológicas.
É em viagens que me recordo do amor por este corpo, eu, gordinha para os padrões estéticos de nossa atual sociedade, me lembro que é preciso amar o corpo que nos conduz pelo mundo e quão insignificante é em minha vida comprar um jeans de tamanho maior ou menor.
Por isso, hoje descanso. Me coloco uma pequena meta de 200 e poucos km até Pelotas-RS, cruzando a Reserva do Taim, com a tranquilidade que a fauna local merece. Na vinda havia um temporal na região e não pude parar e contemplar. Hoje posso. Meu corpo e meu coração pedem. E esse é o luxo que guardo para mim neste dia.

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